“Eu
apenas queria que você soubesse, que aquela alegria ainda está comigo e que a
minha ternura não ficou na estrada. Não ficou no tempo presa na poeira. Eu
apenas queria que você soubesse, que esta menina hoje é uma mulher e que esta
mulher é uma menina, que colheu seu fruto flor do seu carinho “ (Gonzaguinha)
Desde
o dia que minha mãe faleceu, há nove meses atrás, tento escrever sobre ela e
não consigo. Hoje ela completaria 83 anos e a saudade aportou mais forte.
Tivemos uma relação muito intensa, sempre só emoção, a razão passava longe. Alguns
amigos dizem que a cada dia pareço mais com o seu jeito, talvez por isso
tenhamos brigado tanto.
Foi
a mulher mais corajosa que conheci. Não existia nada impossível, a diferença
era apenas querer fazer ou não. Obstáculos eram coisas normais. Adorava a vida
e me deixou a impressão que só foi quando quis.
Minha
avó contava, que aos 5 anos, minha mãe não aceitava a troca da chupeta, pois
naquela época o material usado não era durável. Sem saída, minha vó resolveu deixá-la
na casa de seus pais durante uma semana, sem avisá-los do vício. Como a
comunicação praticamente inexistia, minha mãe chorou nas primeiras noites e
logo depois adaptou-se à nova casa. No dia combinado, quando voltou para buscá-la,
minha mãe não quis voltar pra casa. Morou com os avós até casar.
Dessa
forma encarou a vida. Quando eu nasci, sou a mais velha de cinco irmãos, já era
professora de um grupo escolar, me ensinou a ler em casa, e já entrei na escola
para fazer o primeiro ano. Depois de quatro filhos, resolveu fazer faculdade de
pedagogia, fez cursos para trabalhar com crianças especiais e aposentou-se como
diretora do Instituto de Surdos do Ceará.
Como
todas as mulheres, mesmo trabalhando, cuidava de tudo em casa. Era severa e
brincalhona. Quando precisava, sabia usar um palavrão como ninguém. Não media
esforços para que a gente estudasse nas melhores escolas. Queria que tivéssemos
todas as oportunidades possíveis, e cobrava resultados firmemente. Quando eu já
estava cursando o segundo grau (como se chamava naquela época), me transferiu de
uma escola para outra, no meio do ano que, segundo indicações de seus colegas,
preparava melhor para o vestibular. Nunca, nem por brincadeira, levava em consideração a hipótese de que eu e
minha irmã não trabalhássemos.
Separou-se,
namorou pela internet, viajou sozinha, tomou seu primeiro porre de vinho aos
60, viveu tudo e do jeito que queria.
Vaidosa,
ensinou os netos a lhe chamarem de mãezinha, mas foi uma vó que deixou muitos
momentos registrados de alegria e carinho no coração de todos.
Fez
três cirurgias no coração e na última o médico nos falou que ela só teria 5% de
chance de sobreviver. Viveu quase 20 anos mais, só sossegou quando foi
diagnosticada com Alzheimer. Cinco anos antes de sua partida, assumi sua vida e
ela entendeu seu momento, não brigou com a doença.
Minha
mãe me deixou o ensinamento fundamental em minha vida, o que é ser mulher.
Lembro quando criança, durante as aulas de preparação de primeira comunhão, um
padre falou pra mim, que as mulheres deveriam obedecer aos pais e
posteriormente ao marido, buscar a santidade. Minha mãe me ensinou, durante
quase 55 anos juntas, que não devemos obediência a ninguém, e que as santas não são
felizes.
Muito verdadeiro Rita... dona Ileana toda aí nas suas palavras....saudade é uma coisa engraçada mesmo, nunca pára de doer, nunca pára de existir, mas é sempre muuuuuuuuito legal lembrar e reviver todos os momentos...
ResponderExcluirbrigada Jay, q bom q vc a reconheceu aí. bjs
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLindo prima! Saudades da tia, da minha grande amiga e da Mulher de um coração cheio de bondade. Agradeço à DEUS, por ter tido a oportunidade de vivenciar muitas alegrias e confidências com ela. Te AMO minha grande amiga,você está sempre nas minhas orações. Amor eterno! Saudades!!!
ResponderExcluirBrigada prima, amo vc! bjs
Excluir