quinta-feira, 31 de março de 2016

Precisamos do Feminismo



You tell me it gets better, it gets better in time. You say I'll pull myself together, Pull it together, you'll be fine. Tell me, what the hell do you know? What do you know? Tell me how the hell could you know? How could you know? 'Til It happens to you, You don't know how it feels, how it feels, 'Til it happens to you, you won't know, it won't be real. No, it won't real, won't know how it feels.” ( Música "Til It Happens To You" ("Até Que Aconteça Com Você"), escrita por Lady Gaga e Diane Warren para o documentário "The Hunting Ground", sobre estupros acontecidos nas universidades dos EUA.)

Hoje em dia mata-se mais de 10 mulheres por dia no Brasil. Sim, podem assustar-se. De acordo com os dados oficiais*, em 2013 foram 13 por dia e os estudos já demonstram que em 2014 e 2015, os números continuam alarmantes. Não tem outra explicação senão o machismo, que continua em alta na nossa sociedade.
Às vezes, disfarçadamente, com mensagens subliminares em jornais, revistas, novelas, filmes, decisões judiciais, ou mesmo em casamentos perfeitinhos, onde a mulher é responsável por todos os cuidados com os filhos e com a casa. Outras ao vivo, através do cerceamento da liberdade das mulheres em falar, agir e finalmente pela violência. Está inserido até no grupinho de whatsapp da escola, onde só participam as mães.
Desde sempre eu enxerguei isso no mundo. Nunca sonhei em casar de branco, com responsabilidade das tarefinhas de casa ou de cuidar da roupa do marido. Quando fui morar com meu ex-marido tive a esperança de uma relação igualitária sem posições impostas pela sociedade. Claro, foi um fiasco. Isso não existe nem em filmes de comédias românticas.
No trabalho o machismo é um componente inserido na cultura das organizações. Trabalho numa empresa pública e não temos diferenças salariais, mas se verificarmos com mais cuidado, entre homens e mulheres acima de 50 anos, perdemos feio na ocupação de cargos de gerência. Apenas 2 (duas), e acima de 52 anos, nenhuma. Enquanto eles, ocupam esses mesmos cargos já passando dos 60’s. Ou seja, nossa experiência e conhecimento perde a importância junto ao aparecimento das rugas.
Demorei a entender a razão de precisarmos ter um dia. Não gostava, achava que era mais uma coisa para sermos tachadas de diferentes, de precisarmos de mais direitos. Pura arrogância da juventude.
Além disso, tinha receio de me definir como feminista. Se era o contrário de machista, não seria indicado. Mas o necessário é isso mesmo, lutarmos a favor da igualdade com direitos iguais. Na prática e na teoria. O dia da mulher, o dia internacional de eliminação da violência contra as mulheres, são datas importantes a fim de que se levantem dados e principalmente, divulguem-se e discutam-se. As piadas machistas, de gays, negros, entre outros, para mim não tem graça, aliás nunca tiveram. Não concordo com os que reclamam da falta de humor. Precisam sim, fazer piadas com outros assuntos, pois com esses, só se enfatizam os preconceitos.
Conclamo a todos, homens e mulheres: rebelem-se! Sejamos feministas! Eduquemos nossos filhos, a fim de que compreendam a igualdade de gêneros, a multirracialidade, e o respeito que devemos às pessoas, bichos e ao meio ambiente. A paz agradece.

* * http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2015/MapaViolencia_2015_mulheres.pdf



sexta-feira, 18 de março de 2016

Saudades



"Tanta bobagem, tanta besteira, tanta bobeira, tanto tempo perdido, tanto medo, tanto barulho, tanto silêncio, tanta palavra, tão pouco sentimento, tanto tempo". (Ed Motta)



Sei que todos temos nossos momentos melancólicos, mas gosto sempre de olhar pra frente e conviver bem com as novidades da vez. Porém ultimamente tenho sentido saudade dos velhos tempos em alguns aspectos do futebol e da política.
Comecei a torcer o time do Fortaleza com o único objetivo de arengar com meu irmão, pois ele adorava o Ceará. A gente brigava, brincava, mas isso nunca teve nenhuma importância na nossa relação. Nem tampouco com meus amigos, que muito pelo contrário, usamos essas divergências para nos divertirmos.
 Hoje quando vejo, pessoas matando, pelo simples fato de torcerem por times diferentes, brigas entre torcedores do mesmo time, não consigo entender. Os times agora precisam de eleições de misses, apresentam o uniforme com desfiles dessas misses complementando a vestimenta com fio dental. E nós mulheres, as quais gostamos do esporte? Cadê a eleição dos bonitões da temporada? Onde veremos os desfiles com os craques mais gatos? Está meio sem graça.
E agora a política. Para alguns, pensar diferente virou sinal de inimigo de guerra. Lembro da época de eleição “Lula X Collor”, eu tinha uma turma que adorava se reunir pra ver os debates. Tinha torcedor de tudo que é lado, discutíamos, ríamos bastante, e no final já marcávamos o próximo encontro e quem iria ser responsável pelos comes e bebes. Recordo também, que íamos para as ruas com nossas bandeiras e muitas vezes, dividíamos a mesma esquina com nossos adversários e nunca presenciei nenhuma discussão violenta.
Hoje, tive que sair de alguns grupos de whatsapp, pois além de posts mentirosos, porque a maioria nunca confere pra certificar suas veracidades, ainda tem àqueles que encerram-se dizendo: “só burros e idiotas não veem”. E eu ali de idiota e burra tive de pular fora.
Falo isso, claro, porque não vivi a época da ditadura. Mas lembro que aos 12 anos, fizemos um abaixo assinado na escola, pedindo a volta de um professor, e meu pai ficou passado, dizendo que o país passava por um momento difícil, onde podiam usar nossas assinaturas contra os militares. Eu não entendi nada, mas logo vi que, se meu pai tinha medo de uma besteira daquelas, havia algo de podre no nosso reino. Depois descobri, através de filmes como “Pra frente Brasil” e livros do Marcelo Rubens Paiva, que o buraco era muito mais embaixo.
Dessa forma, sempre participei das discussões na empresa, por melhores condições de trabalho, e quando voltamos a votar, buscava candidatos mais envolvidos com o bem-estar de todos.
E isso nunca me impediu de andar nas ruas e usar a roupa da cor que me interessasse.

Em 2014, meu pai, já muito doente, na uti, delirava contando fatos antigos da época da ditadura. É traumatizante e nocivo pra todos, a liberdade é nossa maior riqueza. Enquanto isso, continuo sonhando com um mundo melhor e mais justo. Mas estou com medo de sair às ruas, com a minha bandeira. Que saudades dos velhos tempos!