sexta-feira, 18 de março de 2016

Saudades



"Tanta bobagem, tanta besteira, tanta bobeira, tanto tempo perdido, tanto medo, tanto barulho, tanto silêncio, tanta palavra, tão pouco sentimento, tanto tempo". (Ed Motta)



Sei que todos temos nossos momentos melancólicos, mas gosto sempre de olhar pra frente e conviver bem com as novidades da vez. Porém ultimamente tenho sentido saudade dos velhos tempos em alguns aspectos do futebol e da política.
Comecei a torcer o time do Fortaleza com o único objetivo de arengar com meu irmão, pois ele adorava o Ceará. A gente brigava, brincava, mas isso nunca teve nenhuma importância na nossa relação. Nem tampouco com meus amigos, que muito pelo contrário, usamos essas divergências para nos divertirmos.
 Hoje quando vejo, pessoas matando, pelo simples fato de torcerem por times diferentes, brigas entre torcedores do mesmo time, não consigo entender. Os times agora precisam de eleições de misses, apresentam o uniforme com desfiles dessas misses complementando a vestimenta com fio dental. E nós mulheres, as quais gostamos do esporte? Cadê a eleição dos bonitões da temporada? Onde veremos os desfiles com os craques mais gatos? Está meio sem graça.
E agora a política. Para alguns, pensar diferente virou sinal de inimigo de guerra. Lembro da época de eleição “Lula X Collor”, eu tinha uma turma que adorava se reunir pra ver os debates. Tinha torcedor de tudo que é lado, discutíamos, ríamos bastante, e no final já marcávamos o próximo encontro e quem iria ser responsável pelos comes e bebes. Recordo também, que íamos para as ruas com nossas bandeiras e muitas vezes, dividíamos a mesma esquina com nossos adversários e nunca presenciei nenhuma discussão violenta.
Hoje, tive que sair de alguns grupos de whatsapp, pois além de posts mentirosos, porque a maioria nunca confere pra certificar suas veracidades, ainda tem àqueles que encerram-se dizendo: “só burros e idiotas não veem”. E eu ali de idiota e burra tive de pular fora.
Falo isso, claro, porque não vivi a época da ditadura. Mas lembro que aos 12 anos, fizemos um abaixo assinado na escola, pedindo a volta de um professor, e meu pai ficou passado, dizendo que o país passava por um momento difícil, onde podiam usar nossas assinaturas contra os militares. Eu não entendi nada, mas logo vi que, se meu pai tinha medo de uma besteira daquelas, havia algo de podre no nosso reino. Depois descobri, através de filmes como “Pra frente Brasil” e livros do Marcelo Rubens Paiva, que o buraco era muito mais embaixo.
Dessa forma, sempre participei das discussões na empresa, por melhores condições de trabalho, e quando voltamos a votar, buscava candidatos mais envolvidos com o bem-estar de todos.
E isso nunca me impediu de andar nas ruas e usar a roupa da cor que me interessasse.

Em 2014, meu pai, já muito doente, na uti, delirava contando fatos antigos da época da ditadura. É traumatizante e nocivo pra todos, a liberdade é nossa maior riqueza. Enquanto isso, continuo sonhando com um mundo melhor e mais justo. Mas estou com medo de sair às ruas, com a minha bandeira. Que saudades dos velhos tempos!

2 comentários:

  1. Verdade Rita... nada é mais natural, tudo é a ferro e fogo, não existe mais tolerância nem convivência com o que não pensa igual a mim....tristes tempos...

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  2. Infelizmente tudo que vc escreveu é verdade, vivemos constantemente em "pé de guerra".


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