segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Sigo o rumo



Criei esse blog quando fiz 50 anos. Sentia-me oprimida pela idade, insatisfeita com o trabalho, filhos adultos, dúvidas e incertezas. Queria escrever sobre novos caminhos e minha vontade de mudar. Para mim, fazer 50, era ultrapassar uma barreira do que tinha sido e precisava pensar o que seria dali pra frente, o que fazer com a velhice.

Escrevi sobre mim, envelhecimento, amigos, filhos, meus pais, feminismo, o que me vinha a cabeça. Fiz planos e sonhos, que agora, confrontados com a realidade dos quase 10 anos que já se passaram, parecem algo distante. Pois não os faço como ditadores, são apenas os primeiros traços de um desenho que terminarei vivendo. Caminhei levando vários tropeços e quedas. A menopausa, a morte dos meus pais, um câncer. A lembrança ainda me sufoca, procuro o ar. Outras vezes, o tempo ficou tão claro e aberto como a decisão de estudar literatura, ler e escrever. Nessas horas sinto o amor me rondando feito um carinho que alimenta.

Meu blog foi o começo de tudo. Decidi escrever quando viesse a vontade de dizer algo, de pensar coletivamente sobre um assunto que considerava importante. Optei por não definir regras nem horários. Cansada de obrigações, lembrava da disciplina na escola, notas para o bom comportamento, onde precisávamos nos adequar a padrões. Trabalho, diversão, tudo com hora pra chegar e pra sair. Regras, em sua maioria, castradoras da inspiração. Preferia a responsabilidade.

Mas aí, num curso com a escritora Marcia Tiburi, ela falou sobre o significado da verdadeira disciplina: “a do desejo”. O comprometimento com aquilo que queremos. A da frase do Renato Russo: “Disciplina é liberdade”. Tão lindo e profundo. Encontrei minha disciplina, a que tem regras definidas por mim. Uso-a em meus estudos, quero estendê-la a escrita de minhas crônicas.

O outro desafio é encontrar a alegria nesse deserto de solidões, abandonos e mortes. Tarefa árdua com uma doença à espreita, castigando mais os pobres e velhos. A rua, com a alma descoberta por João do Rio, se faz perigosa. Tristeza com o desgoverno que elegemos para nosso país. Homens bárbaros, racistas, homofóbicos, que abominam a cultura. Desprezam as mortes de brasileiros, como se nada significassem aos que ficam.

O cronista, talvez, deva olhar mais para dentro de si, enxergar as mínimas coisas que trazem alegrias ou tristezas no dia a dia. Animar-se com os que estão por perto. Descobrir novas paisagens nas antigas janelas. Falar sobre o novo habitual. Buscar inspiração nos livros, que nos transportam para outros tempos e lugares, nunca vistos ou existidos. Usar as palavras para amenizar a dor e a indignação, mas também para disseminar a alegria e esperança. Sigamos.

 

 

6 comentários:

  1. Adorei, Rita..sua pena sempre certeira e incisiva, as vezes cauterizando, o que é bom..e outras vezes deixando a ferida viva e mais exposta..o que é melhor..precisamos pensar sobre como a gente pode afetar o mundo..obrigada..

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  2. Obrigada por esse testemunho! Fez -me pensar em tudo o q vivi, o q não vivi, e todas as frustrações que tive (e tenho)...
    Luto diariamente pra colocar um sorriso no rosto e viver!
    Meu "Rivotril" é o vôlei... nesse momento, a felicidade é intensa!
    Ainda bem!! 🙏🏼
    Beijocas, querida!! 💋💋
    Saudades... 💝
    E assim, segue o baile...

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    1. É isso Vânia. Precisamos de coisas q nos salvem. Bjs e saudades

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  3. Que esse recomeço seja de muita inspiração para nos alegrar. Orgulho que chama ❤️

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  4. Que bom te ler, Rita Vânia! É isso, seguimos, buscando acender a alegria, nos reinventando...

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  5. Admiro profundamente as pessoss que a todo momento se reinventam...parabéns...

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