Encontros continuam sendo um
mistério pra mim. Olhamos para alguém e simpatizamos sem a menor explicação
prévia. Intuitivos, espirituais e inexplicáveis. Foi assim meu primeiro
encontro com ela, olhares seguidores, falantes e solícitos. Fui embora, cética
e certa que a esqueceria na próxima esquina. Mas já estava tudo resolvido,
quando voltei depois de uma semana, ela já me esperava.
Nossa vida juntas durou quase 12
anos, onde só coube amor, amizade e alegrias. Minha Luna. Típica leonina, cheirosa
demais, adorava festas, gente em casa e banho de mar. Ciumenta, reclamava se
não estivéssemos lhe dando a devida atenção. No carro, chorava pra ir no meu
colo, mesmo estando na direção, e com a janela aberta para curtir o vento.
Companheira de praia, estudos, músicas, dias tristes, de todos os dias. Por
ela, não nos separaríamos por nada.
Só entendemos o amor dos animais
depois de nos apaixonarmos por um. Eles têm o dom do amor absoluto, sem
amarras, sem julgamentos, só entrega. Uma relação de prazer e carinho.
Um dia os cientistas ainda irão
descobrir que a divisão entre homens e bichos como racionais e irracionais está
totalmente incorreta. Nós somos os irracionais. Somos nós que matamos por ódio,
somos nós que não aceitamos a cor, o credo, a vida do outro. Estamos sempre
prontos a julgar, a apontar o dedo. Queremos armas para nos defendermos de nós
mesmos. Guerras, fome, assistimos como a um filme.
Nélida Piñon, em seu “livro das
horas”, narra sua decisão de deixar tudo determinado em seu testamento, caso
morresse antes de seu pinscher, Gravetinho Piñon, “seu grande e eterno amor”, e
justifica: “não estava preparada para esse amor”. Nunca estamos, por isso a
despedida é tão dolorosa.
Gravetinho se foi antes dela, e minha
Luna, antes de mim. Hoje sou só dor e saudade. O vazio da sua ausência é
enorme. Difícil escrever sobre o que estou sentindo. Difícil entender os
sentimentos de perda e angústia. Vontade de ficar só e chorar, de não pensar,
de fugir para não sentir. Mas ela está dentro de mim com seu amor, sua lealdade
e seu olhar, desde àquele primeiro dia. E tudo isso também me ensina a ir em
frente.
Me emocionei! Maravilhosa escrita, leve e envolvente. Parabéns Rita!
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