domingo, 12 de março de 2017

Dia da mulher não é para festejar!

“Essa moça tá diferente, já não me conhece mais, está pra lá de pra frente, está me passando pra trás. Essa moça é a tal da janela, que eu me cansei de cantar e agora está só na dela botando só pra quebrar”. (Chico Buarque)

Tudo começou com uma estorinha, muito besta por sinal, que a gente foi gerada a partir de uma costela deles. Pronto, até hoje, já nascemos com a pecha de inferiores, tendo que provar a vida inteira que também somos capazes.
Na semana que passou, foi o dia internacional da mulher. Dia, que são publicados, mais uma vez, os péssimos indicadores sobre a violência contra as mulheres, com os quais, convivemos diariamente. Somos o pior país da América do Sul para se nascer mulher, a violência letal contra mulheres aumentou 24% durante a década anterior, a cada hora e meia, uma mulher é assassinada por um homem, em um total de 13 feminicídios por dia. E a cereja do bolo é que vivemos no país que mais mata transexuais no mundo.
O que temos a comemorar? Para mim, muito pouco. Celebro a maior consciência de homens e mulheres em discutir e não mais aceitar esses dados. Embora, ainda acredite, que a maioria dos homens, continua perdido, pois, falta-lhes o entendimento sobre como e porque mudar o estabelecido.
Nossa independência financeira e emocional é a primeira ação, com a qual enfrentamos o machismo.  E a partir daí nos envolvermos com muita firmeza na educação dos nossos filhos, para que os meninos respeitem as mulheres sem machismo, e as meninas não aceitem nenhum tipo de violência.
Recebi inúmeros textos de parabéns, a maioria ressaltando nosso poder de resolver tudo, cuidar de todos, resiliência, entre outras bobagens. Sou uma mulher que criou três filhos, uma menina e dois meninos, sozinha. Amamentei e os eduquei para o respeito a todos, para trabalharem e buscarem viver bem consigo mesmos. Mas nunca fui super nada. Cometi erros, sofri, briguei por nada, chorei muito, escondi minhas fragilidades, fiz um monte de besteira, mas tive muita gente me ajudando. E se hoje me orgulho do que fiz, é porque sou consciente que não damos conta de tudo.
O desaprendizado e a autocrítica é o caminho pra todos enxergarmos com mais clareza as diferenças em que estamos atolados no mundo masculino. Desaprender o que nos foi ensinado como certo e natural, e criticarmos nossas ações sempre nos perguntando se agiríamos da mesma forma entre quaisquer gêneros. Essa reflexão serve para homens e mulheres que se indignam contra as injustiças e violências, as quais fazem parte do dia a dia das mulheres.
Não quero rosas, nem dia da beleza, quero mudanças. É um dia triste, no qual temos certeza que as coisas mudam muito devagar, às vezes até regredindo como atualmente, com péssimas espécies machistas no poder. 
O jeito foi sair pra tomar um vinho com as amigas. Rir da desgraceira toda, dos estereótipos que o machismo nos impõe, mas também nos sentirmos companheiras de jornada e mais conscientes de nossos direitos. Direito a ser mulher hétero, trans, lésbica, bi e travesti. Com filhos ou sem. Direito a ser feliz do jeito que a gente quiser.

P.S. Dedico esse texto à Dandara, que morreu pelo simples fato de ser uma mulher trans e querer seu feliz!

2 comentários:

  1. Rita, adorei esse seu texto. Simples e profundo.
    Pelo direito de ser, sem ser o que outro quer que sejamos. Pelo dever de dizer e nunca se conformar, nem se formar na forma alheia.
    Te beijo. Te festejo.

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  2. Ainda estamos longe, mas esse é o caminho! Muitos bjs amiga

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