“Essa
moça tá diferente, já não me conhece mais, está pra lá de pra frente, está me
passando pra trás. Essa moça é a tal da janela, que eu me cansei de cantar e agora
está só na dela botando só pra quebrar”. (Chico
Buarque)
Tudo
começou com uma estorinha, muito besta por sinal, que a gente foi gerada a
partir de uma costela deles. Pronto, até hoje, já nascemos com a pecha de
inferiores, tendo que provar a vida inteira que também somos capazes.
Na
semana que passou, foi o dia internacional da mulher. Dia, que são publicados,
mais uma vez, os péssimos indicadores sobre a violência contra as mulheres, com
os quais, convivemos diariamente. Somos o pior país da América do Sul para se
nascer mulher, a violência letal contra mulheres aumentou 24% durante a década
anterior, a cada hora e meia, uma mulher é assassinada por um homem, em um
total de 13 feminicídios por dia. E a cereja do bolo é que vivemos no país que
mais mata transexuais no mundo.
O
que temos a comemorar? Para mim, muito pouco. Celebro a maior consciência de
homens e mulheres em discutir e não mais aceitar esses dados. Embora, ainda
acredite, que a maioria dos homens, continua perdido, pois, falta-lhes o
entendimento sobre como e porque mudar o estabelecido.
Nossa
independência financeira e emocional é a primeira ação, com a qual enfrentamos
o machismo. E a partir daí nos envolvermos
com muita firmeza na educação dos nossos filhos, para que os meninos respeitem as
mulheres sem machismo, e as meninas não aceitem nenhum tipo de violência.
Recebi
inúmeros textos de parabéns, a maioria ressaltando nosso poder de resolver
tudo, cuidar de todos, resiliência, entre outras bobagens. Sou uma mulher que criou
três filhos, uma menina e dois meninos, sozinha. Amamentei e os eduquei para o
respeito a todos, para trabalharem e buscarem viver bem consigo mesmos. Mas
nunca fui super nada. Cometi erros, sofri, briguei por nada, chorei muito, escondi
minhas fragilidades, fiz um monte de besteira, mas tive muita gente me
ajudando. E se hoje me orgulho do que fiz, é porque sou consciente que não
damos conta de tudo.
O
desaprendizado e a autocrítica é o caminho pra todos enxergarmos com mais
clareza as diferenças em que estamos atolados no mundo masculino. Desaprender o
que nos foi ensinado como certo e natural, e criticarmos nossas ações sempre
nos perguntando se agiríamos da mesma forma entre quaisquer gêneros. Essa
reflexão serve para homens e mulheres que se indignam contra as injustiças e violências,
as quais fazem parte do dia a dia das mulheres.
Não
quero rosas, nem dia da beleza, quero mudanças. É um dia triste, no qual temos
certeza que as coisas mudam muito devagar, às vezes até regredindo como
atualmente, com péssimas espécies machistas no poder.
O jeito foi sair pra
tomar um vinho com as amigas. Rir da desgraceira toda, dos estereótipos que o
machismo nos impõe, mas também nos sentirmos companheiras de jornada e mais conscientes
de nossos direitos. Direito a ser mulher hétero, trans, lésbica, bi e travesti.
Com filhos ou sem. Direito a ser feliz do jeito que a gente quiser.
P.S.
Dedico esse texto à Dandara, que morreu pelo simples fato de ser uma mulher trans
e querer seu feliz!
Rita, adorei esse seu texto. Simples e profundo.
ResponderExcluirPelo direito de ser, sem ser o que outro quer que sejamos. Pelo dever de dizer e nunca se conformar, nem se formar na forma alheia.
Te beijo. Te festejo.
Ainda estamos longe, mas esse é o caminho! Muitos bjs amiga
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